quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sábado 20 de Dezembro de 2008



Hoje fui assistir ao Concerto de Natal da Academia de música que a minha filha mais nova frequenta.
Queria que ela ficasse muito orgulhosa da mãe pelo que decidi vestir um vestido castanho, de malha, com um ar muito "compostinho".
Quando me viu disse logo: "ó mãe! não quero que vás com roupa de Advogada!"
A minha filha é muito pragmática, para ela o meu guarda-roupa divide-se em:
"Roupa de Advogada": tudo o que tem um ar vagamente "chato".
"Roupa de Fim-de-Semana": roupa velha que já não uso para mais nada senão para limpar a casa e brincar com os miudos.
"Roupa de Férias": é o que o nome indica.
"Roupa Normal": toda a outra.
Ela queria que eu levasse "Roupa Normal".
Como tinha perdido o tempo "contado", a vestir a "Roupa de Advogada" já não consegui "arranjar" uma roupa normal que fosse mais ou menos "decente", (entenda-se: não completamente "experimental"), porque, em sítios públicos, numa cidadezinha pequenina, o mais natural é aparecer alguém que me conhece...e ninguém quer ficar com cara "daquela tonta"daquela Advogada"...não é? (A triste verdade, minhas queridas, é que, às vezes, acontece!)
Em pouco menos de cinco minutos foi isto o que surgiu.
Digam-me o que acham.

Hoje vesti:
(para o Concerto de Natal)
Vestido que não sei a marca; jeans MANGO; top DIM; sapatos MANGO; a mala é NAF-NAF.

Este vestido tem uma história.
Sabem porque é que é assim TÃO colorido?
Porque o meu sogro morreu o ano passado. 2007.
Nem vale a pena dizer a dor.
Não era o meu pai, mas estava lá muito perto.
Para além do mais era o avô das minhas filhas.
O pai do meu marido e da minha cunhada. E,
O marido da minha sogra.
O irmão das minhas "tias".
Tudo pessoas que eu amo.
A morte dele causou-lhes uma dor terrivel.
E a mim, talvez, pior.
Porque só queria dar mimos a todos. Colinho. Abracinhos.
E, ao mesmo tempo, também queria mimos. Colinho. Abracinhos.
Coisas que ninguém me podia dar. Porque toda a gente precisava.

Não sei se sabem, mas, nas terras pequenas, é suposto "andar de luto" durante meses estipulados, são costumes.
Já sabem que "costumes" podem ser "Fonte de Direito", estão a ver a força?
Exemplo:
Marido ou filhos: o resto da vida.
Sogros ou pais: dois anos.
Avós: seis meses.
E assim por diante...

Claro que estas regras só se aplicam às mulheres.... Mas não é isso que vos queria dizer.
A minha sogra (como o meu sogro adorava estar vivo, cores alegres e detestava mesmo, mesmo, vê-la vestida de preto) decidiu enfrentar a maledicência (terras pequenas-bairros- prédios em cidades grandes - a natureza humana é a mesma por todo o lado!) e não usar "luto de Viúva"
Decisão dela, mas que nós, filhos e nora, apoiámos inteiramente, e, até, encorajámos.
Deixem-me só dizer-vos que eu não tenho irmãos. Sou filha única. Com tudo o que isso tem de bom e de mau.
Os meus sentimentos em relação à minha cunhada, e se calhar em relação aos pais do meu marido, são muito de "irmã" e de "filha"- sem com isto dizer que sou filha.
Não sou.
Sou nora.

O vestido...COLORIDO foi comprado para passar o primeiro Natal sem o meu sogro.
Foi o mais colorido que consegui encontrar.
A minha sobrinha tinha nascido.
Porque, prestem atenção que isto é muito importante,:a minha cunhada ficou grávida quando o pai morreu.
A VIDA ganhou à MORTE.
Nesse Natal, do ano passado, houve muitos risos, e um "Menino Jesus" novo.
Não vos vou dizer que não houve choros.
Estava a mentir.
Mas houve esperança.
E "conforto".
Se quiserem: colinho e miminhos para nós todos.
As mulheres da família eu, cunhada, sogra, miúdas...todas de roupa colorida!
Trapos? dizem vocês... Eu digo outra coisa:
RESISTÊNCIA




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