segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A história de um casaco






Este casaco/colete/salva-vidas/qualquer coisa... foi a minha sogra quem me deu.
Antes de pensarem que a senhora me detesta. Deixem-me explicar que não, pelo contrário, este casaco é/tem uma história de afecto.
É por isso que estou a escrever sobre isto (ver fotografia).
Quando ela mo ofereceu, sob o olhar horrorizado da minha filha mais velha, toda ela brilhava de alegria.
Isto que estão a ver nada tem a "ver" comigo!
Eu sou precisamente o oposto daquilo.
Todas (os) teorizamos e conversamos sobre como aquilo que vestimos ser a "primeira expressão da nossa personalidade".
De como a forma como nos apresentamos ser o nosso "cartão de visita".
De como a "sociedade vive de e para as aparências".
E, até há aquele ditado antigo: "mulher que bem arreia nunca é feia".
Não se riam porque existe mesmo! Claro que é sabedoria do povo, mas o povo lá sabe!
Há, no entanto, um outro aspecto que nunca ninguém se lembra.
A roupa que usamos é também a expressão dos nossos afectos.
Reparem neste belo casaco e oiçam o que tenho para dizer sobre o assunto.
Todas se lembram do que sentiam quando brincavam com as bonecas?
Eu sou do tempo da TUCHA só (muito) depois é que vieram as BARBIES e o resto da panóplia.
Também sou do tempo em que um (1) boneco se estimava como coisa rara (que era).
Quando tive o meu "João", um boneco com pilinha, a quem a minha mãe fez um enxoval tricotado, fui a menina mais feliz do mundo!
O que eu o vesti e o despi, e lhe dei banho, e lhe fiz roupas.

E quando tive a minha primeira filha?
Foi tal qual brincar com bonecas!!!!
O que eu a despi e a vesti, coitada! O que lhe enfiei na cabeça, e os laços e as tranças....e as roupinhas! Já mencionei as roupinhas?
Tudo puro afecto. Também um pouco de vaidade, claro está!
A menina mais linda do Planeta e de todo o Universo (conhecido e desconhecido), não podia andar de qualquer maneira!
SIM, sou a mãe das meninas mais lindas do mundo...e dos sobrinhos também!

SIM também sou "mãe" dos meus sobrinhos.

O deslumbramento! Não existem palavras para o descrever.
Mas existiam roupinhas para o traduzir.
Durante os primeiros anos de vida da minha filha não comprava nada para mim. Só ela é que contava.
O maior elogio que recebia era dizerem-me que "parecia uma bonequinha". Ela. Não eu.
As roupas também são isso. A expressão do nosso amor.

Sou mais velha que muitas das minhas amigas. São meninas muito novinhas que acabam a faculdade e que vou conhecendo.
Claro que também tenho outras amigas que já vêm de trás, algumas mesmo da infância, porque felizmente, nos continuamos a ver, a dar, a conversar, temos filhos da mesma idade, maridos da mesma idade....

Lembrei-me agora das mais novinhas de quem gosto muito! muito! porque neste último ano assisti ao casamento de muitas delas.
Para um desses casamentos fomos todas juntas às compras.
Um bando de mulherio à solta! Se conseguirem imaginar: risos a despropósito, comentários irónicos, com mais risos, almoço cheio de gargalhadas...chegam lá perto!
Fui muito engraçado.
Todas temos a mesma profissão por isso temos uma espécie de "uniforme" de trabalho. Calças/casaco ou saia/casaco.
E o nosso carinho por essa nossa amiga, fazia-nos dizer, sempre a rir, às empregadas das lojas: "Não, não queremos um fatinho! - era o que nos era sugerido, porque foi um casamento no Inverno - queremos um vestido!".
Todas nós com o mesmo pensamento. Tornar a festa da nossa amiga LINDA.
Estarmos perfeitas! Mesmo a bater o queixo, para que ela, que adora festas, e que também é linda, tivesse a SUA FESTA cheia de gente bonita e bem vestida.
Não por vaidade. Não para ser a mulher mais bem vestida ou mais bonita da festa. Mas por carinho. Movidas pela ternura.
O mesmo para o casaco que a minha sogra me ofereceu.
Ela acha mesmo que aquele casaco é a minha cara.
Porque é fora de vulgar. Como eu sou. Porque é de uma das minhas marcas preferidas.
SIM, foi à loja que eu mais gosto para o comprar.
Porque mo ofereceu por nada.
Não eram os meus anos, nem o Natal, nem nenhuma outra circunstância. Só porque olhou para ele e se lembrou de mim.
Como se pode agradecer tal gesto?
Ou dizer que não se gostou particularmente do casaco?
Ou ir trocar?
Não se pode.
Por isso este casaco está pendurado no meu roupeiro. Está à espera que eu encontre alguma coisa que combine com ele.
Não me falem do óbvio! Claro que podia combiná-lo com umas calças de ganga, uma camisola de gola alta e umas botas.
Mas não é isso que eu quero.
Acho que merece algo mais.
É também um desafio: vamos ver se alguém me dá sugestões para o combinar.
Já pensei em pô-lo com uma saia lápis castanha, uma camisa branca e uns sapatos abotinados.
Ainda não consegui encontrar a saia certa.
Continuo à procura.

E quanto aos afectos e às roupas o que acham? Só futilidade? Ou algo bem mais profundo?

Pensem só:
Essencialmente Feminino.
Sentem o perfume?

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