quinta-feira, 19 de março de 2009

Quinta-feira 19 de Março









Feliz dia do pai!

Para os vossos pais.
Para os vossos maridos.
Para os homens em geral.

FELIZ DIA!

Telefono sempre ao meu.
Só para ele.

Não falo com a mãe.

Ele pergunta sempre:

"Queres falar com a mãe?"

Eu digo:

"Não pai. É só mesmo para ti."

O meu pai.
Sofreu um AVC quando era muito novo.

Ficou com sequelas permanentes.

Este pai.
Não é o MEU pai.

O meu PAI.
O que me ensinou a dançar com os pés em cima dos dele.
Me construiu um armário para a louça das bonecas.
Uma caminha para o "João".
E
Até
Um quarto.

Só para ter os meus brinquedos.

Uma "casinha de bonecas".
Em maior.

Esse pai.
Deixou de existir.
Quando fiz catorze anos.

Aprendi a aceitar e a amar este.

Não foi fácil.

Não sei se alguma vez leram o "Da Profundis - Valsa Lenta".
Do Cardoso Pires.

Foi só aí que percebi o que tinha acontecido ao meu pai.

Quando ficou doente.
Ele não se lembrava quem era.

Esqueceu-se do meu nome.

Perguntava à minha mãe pela "menina".

"A menina" era eu.

Com catorze anos.
E sendo já então o que sou hoje.

Menos polida.
Mais desabrida.
Menos "madura".
Só com a minha mãe.

Eu:
"Generala".

A mãe:
"Generalíssima".

Achei que a "culpa" era dele.

Tinha-me "largado de mão".

Nem se lembrava de mim.

Complicado, hein?

Foi.

Era a "menina do papá".

Aprender a "safar-se" sozinha.
Aprender a não contar mais com o pai.

É como ficar órfã.
De alguém vivo.

Não sei se perderam.

Para a morte.

Algum dos vossos pais.

Eu.
Só o sogro.

O sentimento é o mesmo.

Era o meu pai que ali estava.
Mas não era o meu pai.

ESSE nunca recuperei.

Não é egoísmo.
Ou sentimentalismo.

É isto:

Amo o meu pai.
Agradeço a DEUS o ter deixado que ele vivesse.
Podia ter morrido.
Os médicos chamaram-lhe "sorte".
Voltou a andar.
A falar.

Ultrapassou a depressão da doença.
"Instalou-se" no seu novo eu.

A "essência" é que nunca foi a mesma.

Sou a sua "menina".

Não sou é EU.

Porque.

Do meu nome.

Ainda hoje.

Por vezes.

Se esquece.

Desculpa pai.

Tenho tantas saudades tuas.
Do meu "aliado" contra a "tirania".

Que só me sai parvoíce.

Em baixo:

Um excerto de uma entrevista da Maria Teresa Horta ao Zé Cardoso Pires sobre o "Da Profundis".

Para que entendam do que falo.

"Pode dizer-se que este é um livro de memórias?

Sim, uma memória da não memória. Não tenho uma boa definição para isso.

No texto você diz que fez uma viagem à não memória.

Uma viagem à desmemória, ao homem sem memória, e um homem sem memória é um homem perdido. Porque não tem afectos, ninguém pode gostar de alguém se não tiver memória.

Você perdeu igualmente as suas emoções?

Perdi as emoções, quase perdi a fala, a fala fica destroçada, perdi as relações, pois quando não se tem memória não se tem relações, quando se perde a leitura e a escrita fica-se impossibilitado de comunicar."

Hoje vesti:

Vestido MANGO;

Camisa branca sem marca;

Casaquinho malha MANGO;

Sapatos MANGO; - A fotografia tem a Alice. Ele há "meninas" que nunca crescem!

Mala NAF-NAF;

1 comentário:

Thales e Graziela disse...

Querida, aqui só para mandar um beijinho corrido e dizer que amei o casaco bege bordado e o vestido cinza com o cinto marrom. E para fizer que não tenho tido tempo para nada, que tenho que decidir se opero a coluna para me livrar das dores, que os tempos são difíceis, mas hão de melhorar... Acherei um tempo para botar em ordem as leituras e dar notícias.

beijos, Graziela